segunda-feira, 18 de maio de 2009

Os estranhos.

Eu virei uma estranha. E sou tratada como tal. Nossa conversa mais séria, em um ano, foi por e-mail. Você não me vê online no msn, quando eu quero que você veja que estou ali, preciso te chamar. E aí você nem vê a minha foto linda de morrer que tá na exibição. Você nem tem meu número gravado no celular, não deve saber onde foi parar aquele porta-retrato que eu te dei e deve odiar olhar pra qualquer parte da sua casa que lembre de nós dois. Você virou um estranho. Os sonhos pra nós dois se desfizeram. Aquele ar de moleque sumiu de você. As brincadeiras bobas em horas erradas, resolver tudo com um beijo e uma noite boa, ver filme infantil no cinema domingo .. tudo isso faz parte de quem você não é mais. Se somos estranhos um pro outro, por que ainda existe tanto amor? Por que minha garganta fecha quando eu penso em nunca mais te ver? Por que você insiste em aparecer, volta e meia, com a sua versão antiga? O tempo e as porradas nos transformaram em adultos totalmente diferentes das crianças inconsequentes que se envolveram sem pensar no mundo que estava em volta. Sua risada rouquinha e gostosa marcava a melhor hora do meu dia. E quando o assunto acabava, vinham sempre as suas piadas. Portugues, índio, argentino, pontinho, tomate... seu repertório era incrivelmente vasto, mas incrivelmente ruim. Só que eu ria e ria muito. E mais ainda quando você ria junto. Eu sinto tanta saudade. Mas saudade do que já foi e, mesmo que você quisesse, nunca mais vai ser. Porque eu te vi crescendo e quis crescer também, só que a gente cresceu tanto que o amor puro e infantil de um pelo outro não cabe mais na gente. É como aquela roupa que a gente gosta muito, que não dá mais de jeito nenhum, mas fazemos questão de deixar guardada num cantinho escondido e escuro do armário. Só pra, uma hora ou outra, olhar pra lá e lembrar dos bons momentos. O ruim é que ao contrário de uma roupa antiga, que tras lembranças boas .. olhar pro passado desses dois estranhos que a gente foi, faz doer e muito.

Um comentário:

  1. é exatamente isso, o tempo passa, as pessoas mudam e a roupa não cabe mais.... por mais que a gente tente, prenda a respiração daqui e dali, ela pode até entrar... masnão vamos nos sentir tão bem com ela, como nos sentiamos antes.

    ResponderExcluir