A pele arde. O ar sufoca. Falta espaço. Falta gesto. Faltam palavras. Falta - sempre falta - lucidez.
Deveria e poderia ser qualquer um. Acaba sempre sendo, um pouco, um qualquer.
Mas sempre tem a porra da metade que me grita que não é.
Não é amor. Graças a Deus, não é amor! Se já foi? Deve ter sido. Mas agora, ontem, mês passado... Não, não é amor.
E se não é amor, não tem importância ser outra coisa menor.
Mas a pele arde. Arde. Arde. Arrepia. Arde mais. Tudo isso só com um olhar. É assim que eu percebo o olhar. Sem saber de onde vem, eu sei quem tá me olhando. E quantas vezes, meu Deus, eu pedi pra não me olhar assim? Porque engana. Eu já disse que engana. Me deixa abobalhada.
E queima. Queima cada pedacinho da minha pele. Uma fogueira, uma explosão... Não queimariam tanto.
E faz lembrar de quando devia ser amor. Acho que era. Você acha também. Deve ter sido. Mas a certeza é só essa: pode ter sido. Então, é injusto e absurdo que um olhar que queime tanto, também traga tantas lembranças de uma vez.
Porque arder, queimar, sufocar, ficar sem palavras... Isso eu aguento. E gosto.
Mas lembrar não. Não assim, desse jeito, nessa invasão que um único olhar causa.
Queimar dói, mas você sabe que eu gosto da dor. Arder me faz constatar a vida. E sufocar não faz mal, se for tão... Deliciosamente sufocante.
Mas lembrar é desfazer completamente de um esforço quase desumano que eu precisei fazer um dia.
Não é amor, não mais. Não é nada demais. Mas tem dias, vezes específicas, que o olhar faz arder tanto que é preciso um gesto antigo pra não esquecer que deixou de ser amor e evoluiu.
É assim que eu penso... Que quando aquilo deixou de ser amor, foi evolução e não declínio.
Porque amar quem te faz arder é retrocesso.
Bom mesmo é isso... É andar distraída e sentir a pele, de repente, queimando. E saber. Saber com toda certeza do mundo de quem vem o fogo.
Não é amor. Amor - comigo - é brando e machuca sem prazer nenhum no meio.
Mas é isso, foi isso. Não sei o nome. Nem preciso saber. Daqui menos de dois dias nem vai importar mais. E depois, quando já tiver queimado tanto que precise explodir de novo, definições vão ser só definições.
E apesar da falta enorme de qualquer tipo de lucidez que cada gesto, ou não gesto, causa... A gente constata, de novo, que não é amor. Que não nasceu pra ser.
E já em casa, eu agradeço baixinho: "Obrigada, meu Deus, por não ser amor. Queimando assim, eu estaria perdida".
Fogo:
1. Resultado ou manifestação da combustão.
(...)
3. Incêndio.
(....)
7. Suplício da fogueira.
8. Imaginação ardente.
9. Ardor, veemência, paixão, entusiasmo.
AAAAAAAAAAAAAAH. voce sempre consegue por tudo em palavras, como pode? como consegue?
ResponderExcluirserá que um dia vai parar de arder jess? parar de secar a garganta e fazer suar????