terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Não o bastante.

A pele arde. O ar sufoca. Falta espaço. Falta gesto. Faltam palavras. Falta - sempre falta - lucidez.
Deveria e poderia ser qualquer um. Acaba sempre sendo, um pouco, um qualquer.
Mas sempre tem a porra da metade que me grita que não é.
Não é amor. Graças a Deus, não é amor! Se já foi? Deve ter sido. Mas agora, ontem, mês passado... Não, não é amor.
E se não é amor, não tem importância ser outra coisa menor.
Mas a pele arde. Arde. Arde. Arrepia. Arde mais. Tudo isso só com um olhar. É assim que eu percebo o olhar. Sem saber de onde vem, eu sei quem tá me olhando. E quantas vezes, meu Deus, eu pedi pra não me olhar assim? Porque engana. Eu já disse que engana. Me deixa abobalhada.
E queima. Queima cada pedacinho da minha pele. Uma fogueira, uma explosão... Não queimariam tanto.
E faz lembrar de quando devia ser amor. Acho que era. Você acha também. Deve ter sido. Mas a certeza é só essa: pode ter sido. Então, é injusto e absurdo que um olhar que queime tanto, também traga tantas lembranças de uma vez.
Porque arder, queimar, sufocar, ficar sem palavras... Isso eu aguento. E gosto.
Mas lembrar não. Não assim, desse jeito, nessa invasão que um único olhar causa.
Queimar dói, mas você sabe que eu gosto da dor. Arder me faz constatar a vida. E sufocar não faz mal, se for tão... Deliciosamente sufocante.
Mas lembrar é desfazer completamente de um esforço quase desumano que eu precisei fazer um dia.
Não é amor, não mais. Não é nada demais. Mas tem dias, vezes específicas, que o olhar faz arder tanto que é preciso um gesto antigo pra não esquecer que deixou de ser amor e evoluiu.
É assim que eu penso... Que quando aquilo deixou de ser amor, foi evolução e não declínio.
Porque amar quem te faz arder é retrocesso.
Bom mesmo é isso... É andar distraída e sentir a pele, de repente, queimando. E saber. Saber com toda certeza do mundo de quem vem o fogo.
Não é amor. Amor - comigo - é brando e machuca sem prazer nenhum no meio.
Mas é isso, foi isso. Não sei o nome. Nem preciso saber. Daqui menos de dois dias nem vai importar mais. E depois, quando já tiver queimado tanto que precise explodir de novo, definições vão ser só definições.
E apesar da falta enorme de qualquer tipo de lucidez que cada gesto, ou não gesto, causa... A gente constata, de novo, que não é amor. Que não nasceu pra ser.
E já em casa, eu agradeço baixinho: "Obrigada, meu Deus, por não ser amor. Queimando assim, eu estaria perdida".





Fogo:
1. Resultado ou manifestação da combustão.
(...)
3. Incêndio.
(....)
7. Suplício da fogueira.
8. Imaginação ardente.
9. Ardor, veemência, paixão, entusiasmo.

Um comentário:

  1. AAAAAAAAAAAAAAH. voce sempre consegue por tudo em palavras, como pode? como consegue?
    será que um dia vai parar de arder jess? parar de secar a garganta e fazer suar????

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