sábado, 24 de janeiro de 2009

Tempo, tempo, tempo ...

Aos poucos eu vou me acostumando com a idéia. Não é tão ruim assim. Vivi anos sem isso, sem essa droga que tem se feito necessária em minha vida. E vivi bem, pra ser sincera. Minha maior droga sempre foi o amor, amar alguém, me sentir amada...qualquer coisa que fosse relacionanda a esse sentimento, me deixava entorpecida o suficiente pra nunca ligar muito pra quem era o meu "traficante". Mas, sem querer, no meio do meu caminho atravessou um sorriso de menino lindo e um par de olhos tão misteriosos que quase botava pra fora o meu coração, cada vez que eu tentava decifra-los. Só que, hoje e durante cada dia que vivo, tento me convecer de que não preciso deles pra ser feliz. Sou feliz com o carinho dos meus irmãos, a risada debochada da minha mãe, a superproteção do meu pai. Sou feliz com minhas músicas, meus textos, meus seriados de tv (que tiveram um aumento significativo na lista, desde que entrei nesse rehab). Sou feliz com cada uma das coisas, com as quais sempre vivi e sempre me foram suficientes. Seus olhos e seu sorriso não vão tirar meu foco, estou totalmente focada e empenhada em ser feliz com o que tenho. Assim que minha voz voltar, e meu sistema imunológico voltar a ser algo perto de normal, pode apostar que dar a volta por cima não vai ser tão difícil quanto eu fiz parecer que seria. Tem que ser fácil sair pra beber sem desmaiar ou terminar a noite te chamando, tem que ser fácil deixar o cigarro pra tras, tem que ser fácil manter meu celular por perto conseguindo conter o impulso de te ligar. Não te ter em nenhum dos meus campos de visão favorece, mas eu sei, que querendo ou não, uma hora vamos nos rever. Isso que dá termos esse laço tão estreito que nos impõe os mesmos programas sociais. Só que eu espero, sinceramente, que as borboletas sosseguem no meu estomago no momento que eu tiver de te encarar, e que meu coração não me trai sequer uma vez e bata normalmente quando você chegar tão perto que eu possa sentir seu perfume. Não é fácil pra um viciado ver a droga e resistir a ela, mas eu me coloquei em tratamento intensivo, e juro, só o que vou querer quando estiver cara a cara com você é colocar em prática tudo que fui capaz de absorver nesse período. Não terãos outros cara - novos ou antigos - por um bom tempo. O que eu preciso mesmo, é me curar de dois vicios ao mesmo tempo, e ensinar ao meu corpo que ele pode perfeitamente funcionar bem sem precisar pertencer a um cara. As unhas vermelhas, a pele do rosto coberta de maquiagem - sempre ela, me salvando de parecer enferrujada demais com essas malditas sardas que não param de nascer - o cabelo cada dia mais bonito, tudo isso indica que eu tenho plenas condições de voltar a ter uma boa vida, uma vida sem vícios. É animador receber tantos convites pra sair e saber que quando eu realmente quiser, terei algumas opções de festas, bares e bons lugares pra freguentar. Outra coisa que esse vicio não me tirou, bons amigos. Depois que assumi essa doença horrivel, pude ver que meu circulo de amizades é muito maior do que eu pensava ser enquanto só tinha olhos pra minha droga. Meus amigos de antes, de anos atras, ainda estão ali no mesmo lugar, prontos pra me acolherem e isso é tão reconfortante quanto uma dose de você. Te ver voltando não me assusta tanto quanto eu pensei que assustaria, porque eu finalmente pude começar a entender que minha vida só é ligada a sua porque eu quis assim, e a partir do momento que eu digo que não quero mais, as coisas tomam o rumo que eu decidir que elas devem tomar. Amanhã, meu rehab acaba, e talvez ainda essa semana, eu tenha que provar pra mim e pros outros, que uma semana de exclusão, fez bem a mim e aos meus exagerados sentimentos. Eu tô bem, tudo vai ficar bem. A dor de me sentir dependente ainda não sarou, mas é como dizem: o tempo não cura nada, mas tira o incurável do foco. Meu foco mudou, logo, logo isso tudo sai do caminho e a cena muda. E eu consiga sorrir verdadeiro, e passar um mês inteiro sem precisar de médicos ou remédios.

Um comentário:

  1. Ser dependente de alguém pode ser mais perigoso do que ser dependente de uma droga. A droga está ali a qualquer momento, mas e a pessoa?
    Eu sempre achei que não precisava de ninguém e que ia continuar sempre assim, eita engano!
    Amar está diretamente relacionado com estar depende, quer a gente queira ou não.

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