quarta-feira, 25 de março de 2009

Aliança.

Aqui estamos nós, depois de quanto tempo mesmo? Eu nem sei mais, e é tudo tão assustador como eu, com minha mente detalhista, imaginei que seria. Pra melhorar as coisas, o tempo que nos demos parece ter passado rápido demais. Até pra nós dois, que tinhamos pressa de resolver. Não seria má idéia congelar cada momento vivido, mas não tivemos tempo nem pra isso, ele passou correndo, quase nos atropelando, só pra nos lembrar que o futuro é amanhã, e não daqui a quatro meses. Aqui estamos nós, e bom, vai dizer que você também não tá meio sem jeito?! Parece que tem séculos desde o último beijo e do último eu te amo, na entrada da praia. Mas na verdade faz pouco mais (ou pouco menos?) de um mês. Fico te olhando e meu estômago revira, enquanto meu cérebro tenta buscar nos seus arquivos a resposta de por qual motivo nossos reencontros são sempre meio desajeitados e confusos. Nós deveriamos estar mais que acostumados em nos reencontrar, já que nossa maior especialidade é nos deixar escapar um do outro. Mas meu cérebro falho, de quem muito fez luzes loiras, não acha resposta pra isso e eu apelo pra você, rezando pra que pelo menos esse assunto dure mais de dois minutos, sem mais silêncio constrangedor depois. Você ri, e eu sinto uma pontada boa na alma, pelo menos a sua risada ainda é exatamente igual a do moleque de catorze anos que eu conheci! Ri e depois sacode a cabeça iniciando o assunto, ponto pra mim.
Sua teoria não é muito convincente, mas como já tem dez minutos que a gente tá falando sem parar, eu me faço de desentendida-super-interessada e te deixo reinando, do jeito que você gosta. Mas parece não ter jeito, estamos aqui pra uma conversa definitiva, afinal de contas. Quantas mesmo já tivemos? Bom, números nunca foram o meu forte, sei que foram muitas, sempre definitivas. Definição essa que dura até a nossa próxima troca de olhares. De toda essa confusão, uma coisa é certa: por mais que você negue, por mais que eu negue e por mais, muito mais, que a sua mãe reze, alguma força superior apronta e nos coloca sempre de frente um pro outro, de novo. Mesmo que essa força superior na verdade seja pequena, morena e se chame Fernanda!
Você começa - por incrível que pareça, eu ainda tenho medo de te falar o que penso - diz que nossas vidas mudaram muito, você agora tem outros objetivos, e que bom, meu estilo de vida não encaixa, porém, olha que destino louco, você me ama! Agora é minha vez. Respiro fundo, lembro de quantas e quantas vezes eu mudei meu estilo de vida pra encaixar no seu quando a hora da próxima conversa definitiva chegasse, e nunca deu certo. Temo o futuro, porque dessa vez eu não fiz nada: não mudei meu jeito de andar, não parei de fumar, não parei de falar meio alto quando tô empolgada, não me obriguei a ter sempre os óculos na bolsa pra não ter que forçar a vista e ficar com a cara engraçada que você falava, não li jornal, não me informei das ondas, não sei quais filmes tão passando no cinema... Mesmo assim começo o discurso em minha defesa. Sou eu quem aguenta a quatro anos a sua bipolaridade emocional. Fui eu quem decorei as falas dos seus filmes prediletos, só pra te agradar. Sou eu e só eu, que sei cada um dos seus medos e desejos. Também é comigo e só comigo que você é você de verdade. Sem a máscara de homem durão. Eu errei, é verdade, mas você também errou e até quando a gente vai se castigar por isso?! Você afirma com a cabeça, sei que tá pensando. É tudo como sempre, já até sei o final. Um beijo molhado e mais promessas de que o tempo cura tudo, e que o que tiver que ser, será.
Acordo, abro os olhos e procuro a grande e linda parede uva. Encontro. Fecho os olhos e o barulho do mar tá bem ali, no lugar dele, em frente a varanda. Quando ameaço levantar, você aparece, lindo de cabelo bagunçado e cara amassada. Espantando de vez a lembrança do pesadelo que me atormetará durante um ano inteiro e voltará essa noite, mas agora ele é realmente e comprovadamente só um pesadelo. O anel no dedo da minha mão direita não me deixa vacilar.

Um comentário:

  1. a maior aliança que existe são as promessas de amor eterno que são feitas e não cumpridas. É isso que une as histórias, que une os corpos, os sentimentos. E é por isso que a gente espera, e espera e espera.....

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