quinta-feira, 26 de março de 2009

Existem amores que o dinheiro não compra. Para todos os outros, existe MasterCard.

Hoje eu já acordei com voz, o que é um alívio pra um ser-humano que tem como característica principal falar demais. Hoje eu também já pude sair de casa. Odeio ficar doente, mas vivo ficando, e quando a doença vai embora e eu posso voltar pro mundo, sempre tenho a mesma sensação: eu sou mesmo daqui? E enquanto tomava banho, pra voltar pra vida, fiquei na dúvida se colocava o casaco e ia pra mais uma aula gelada e chata do cursinho, ou me enfiava no biquine vermelho de bolinhas e ia na praia atras dele. Eu nem sabia se hoje era dia dele tá na praia, afinal, quem iria querer aula de surf numa quinta-feira de outono? Mas ir até lá, só pra conferir se ele tava dando aula ou não, me pareceu a aventura pós-laringofaringite ideal. Eu estava quase me empolgando de vez e pegando a canga, quando ela apareceu. A porra da minha consciência. Não faz isso, vai até lá pra que? É tão longe. E daí, minha filha? São só sete da manhã e hoje aqui em casa tem faxina até as três da tarde, eu tenho que ficar na rua de qualquer jeito. Não vai, ele nem deve tá lá. E daí? Eu do um mergulho, converso com Deus (você sabe dessa mania que eu tenho de achar que na praia tô mais perto Dele.), pego um sol fresquinho e volto, linda e com as bochechas meio rosinhas. Não vai, Jéssica, ele pode estar ocupado. Ih, como você é cri-cri, hein!? Eu só quero dois minutos de atenção e um copo de Matte com limonada de galão. Tá maluca? Você nunca gostou disso, sempre teve nojo. É, mas agora eu gosto. Posso, finalmente, por o biquine, queridinha? Então ela deu o golpe final: Não vai, ele pode tá lá com outra! Pronto, desgraçada, desgraçou os meus planos, satisfeita?! Vesti a calça jeans, a bata cinza, peguei um casaco colorido e a bolsa amarela e fui. Eu e meu cigarro matinal. Que se foda minha garganta também, não posso ir pra praia, então vou fumar! No meio do caminho me lembrei não não tinha tomado café. Minha paciência pro cursinho era nula e eu ainda ia passar fome. Fui pro shopping. Eu adiquiri mais uma mania, desde a última vez que conversei com ele. Me enfio em cafés de livrarias e sou capaz de devorar um livro inteiro, se me deixarem largada ali, na mesinha do canto, pelo preço de um Chá com leite. Dessa vez ainda pedi um salgado e comprei o livro. Na verdade, comprei dois. Um da Clarice Lispector, outro da Tati Bernardi. Se ele visse minhas compras, iria logo falar que eu só leio chicklit, mas eu assinei o papelzinho do MasterCard toda feliz! Passei a manhã na livraria, lendo Clarice, ouvindo Jason Mraz e tomando chá com leite. Quase não lembrei dele, quase não pensei que eu podia estar na praia, vendo ele dar aula de surf pra algum sequelado que tem aulas de surf em numa quinta-feira de outono e ainda tive um orgasmo intelectual... Tantas idéias, tanta inspiração! Resolvi almoçar por ali também, que se foda a conta do cartão de crédito! Frango grelhado com arroz, salada - que eu dispensei - e um copo de Matte! Depois do almoço, o shopping finalmente tinha cara de shopping e eu resolvi abusar. Já que não podia adimirar a perfeição em forma humana na praia, finalmente compraria aquele vestido que eu tô namorando há séculos. Comprei. E junto dele, uma calça. Uma blusa. Um casaco e mais umas duas sandalhas. Ah, qual é, eu tava doente, emagreci, preciso de roupas novas! Dois andares e quase o limite do meu cartão depois, me veio, do nada, uma esperança meio boba de encontrar ele perto daquela loja que ele disse que aluga cd de jogos do video game mega-ultra-power-moderno que ganhou do pai. Passei lá, mas nada. Tá bom, consciência querida, hoje não é pra eu ver ele, né? Vou te fuder, sua vaca. Mandei pra dentro de mim (e pra conta do MasterCard) um brownie com sorvete, bem caro lá do café da livraria. Depois eu malho e gasto as calorias, mas o dinheiro gasto, esse a minha consciência não vai esquecer nunca! Cheguei em casa ainda pouco, feliz, por mais incrível que isso possa parecer. Não encontrei meu amorzinho, mas adiquiri vários outros amores. Com o cartão de crédito, ainda por cima. Chupa essa manga, consciência. Mas cuidado pra não engasgar e ficar muda, pra sempre.

Um comentário:

  1. Quer dizer que essa mania de sair do tijuca com um milhão de sacolas é antiga, né? HUAHAUHAUAHUAH
    extrasar é a melhor maneira de ~ tentar ~ ocupar a cabeça com outras coisas. Mas ela (a consciência) sempre tá lá pra te torturar por cada excesso. AAAAAARGH! O que ela quer afinal, hein? Não dá pra saber se ela tá a nosso favor, ou contra a gente, de vez enquanto.

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